O Gaslighting é uma tática de manipulação emocional e psicológica, que tem por objetivo desestabilizar a vítima psicologicamente, e a vítima pode ser de todos os gêneros.
Em um primeiro momento, pode ser difícil a vítima perceber os comportamentos tóxicos e abusivos praticados pelo manipulador, assim como em outras formas de manipulação, e por isso, pode haver uma demora em entender o que está acontecendo e buscar ajuda.
Este termo, que ainda não tem tradução, foi criado com base no filme “Gaslight” de 1944. Nele, um marido tenta convencer a esposa de que ela está ficando louca ao esconder os seus pertences e mudar as luzes a gás da casa. Quando a esposa pergunta sobre esses acontecimentos, ele nega, tentando convencê-la de que ela está imaginando coisas.
Para a psicanalista Dra. Andrea Ladislau (SPM 153,0328): “A melhor definição para o gaslighting é um tipo de abuso silencioso, já que não há uma agressão clara. Trata-se de uma manipulação sutil, na qual o abusador enfraquece a autoestima, o amor próprio e a confiança da vítima, fazendo com que ela se coloque cada vez mais submissa, dependente e, se anulando. Isso ocorre a tal ponto que ela não consegue ter a clareza destes atos perversos, e coloca em dúvida suas próprias emoções e seus medos”, explica. De acordo com a especialista, a carência afetiva desta contribui para sua insegurança e confusão emocional diante dos acontecimentos.
Sinais de alerta: como identificar uma relação abusiva?
A médica psiquiatra Dra. Jéssica Martani (CRM 163249 | RQE 86127), especialista em comportamento humano e saúde mental, revela como algumas situações podem ser os sinais de alerta, e aponta também que alguns sinais estão onde menos imaginamos. Confira:
1. A prisão do encantamento
A pessoa promete mil sonhos, mas que são apenas promessas nos quais nenhum deles são realizados e servem apenas para manter o outro aprisionado em uma expectativa. Assim, a pessoa não sai da relação, pois está sempre esperando algo acontecer.
2. A prisão da gratidão
Nesse caso, a pessoa demonstra-se maravilhosa e sempre tenta fazer tudo para agradar, mas “joga na cara” o tempo todo o que está fazendo de ‘bom’. Desta forma, o outro se sente sempre na obrigação de agradar e não consegue nunca dizer não. Nesta obrigação, se sente sempre culpado e não consegue sair da relação.
3. A prisão do “eu não vivo sem você”
Serve para inflar o ego deixando o outro com uma importância além do normal, como se a pessoa dependesse do outro, impedindo então o outro de sair do relacionamento, pois se sente culpado.
4. A prisão do “você é o meu grande amor”
A pessoa sofre, chora e em casos mais graves ameaça se matar caso o outro o deixe. Tem ciúmes sufocante de família, amigos, trabalho e começa a impedir que o outro faça as coisas que sente vontade. É um jogo de manipulação e chantagem emocional que faz o parceiro se sentir com um coração ruim, o que o faz se anular.
5. A prisão da proteção
Faz o outro pensar que sem a proteção dele não há como viver. O faz sentir incapaz de se virar sozinho, intimida e diminui. Dessa forma, o parceiro sente plena necessidade de estar dentro desta relação.
6. A prisão da jaula confortável
Através de presentes, conforto e “carinho” a pessoa acaba não conseguindo sair do relacionamento. Pois, com todo esse conforto, é difícil sair de uma relação e se “aventurar” no desconhecido.
Dra. Andrea aponta que o gaslighting é crime, porque ele pode ser enquadrado na Lei Maria da Penha. O artigo 5º da legislação define que haverá crime caso haja violência psicológica, não necessitando de violência física. Ao menor sinal de agressão psicológica, deve-se buscar ajuda profissional, sem ter medo da exposição.
Se você conhece ou vivencia alguma dessas situações, busque ajuda e enfrente os seus medos. Nenhum tipo de violência merece ser propagado.
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